segunda-feira, 3 de março de 2014

A responsabilidade em relação à água

A responsabilidade em relação à água
Por Ulisses Capozzoli
A estiagem atípica deste verão, com chuvas reduzidas e na melhor das hipóteses localizadas, traz um conjunto de questões que merecem a reflexão por parte de pessoas com noção de cidadania e, portanto, de vida em comunidade que, em ultima instância, é o que as cidades são: comunidades humanas.
Os humanos são animais sociais e a evidência mais clara disso é exatamente a da vida comunitária, em aldeamentos, povoados, vilas, cidadezinhas, cidades médias, grandes, metrópoles e megalópoles, caso em que cidades fundem-se entre si (conurbação) para formar um único e gigantesco espaço urbano.
Cidades, de um modo geral, ainda que isso valha mais especificamente para os grandes espaços urbanos, exigem uma enorme complexidade em termos de abastecimento de bens como alimentos e principalmente água.
E o que a estiagem deste verão está mostrando é que o abastecimento de água na cidade de São Paulo e outras está em risco, por esgotamento dos reservatórios e limitação das fontes de abastecimento desses estoques hídricos.
Em princípio isso não faria sentido, considerando que o Brasil detém perto de 14% dos estoques mundiais de água doce, o que significa dizer que, neste critério, somos os mais favorecidos em escala planetária.
Ausência de planejamento urbano, infraestrutura precária e má gestão pública do espaço urbano, algo histórico no Brasil, entre outros efeitos, anulam, no entanto, essa posição natural privilegiada e corremos o risco de enfrentar racionamento d’água, se as chuvas não chegarem logo e em abundância.
Administradores públicos têm apontado que o desconto no preço da água, adotado em caráter de urgência e absolutamente procedente está contribuindo para a economia.
O que pretendem com isso é capitalizar, com oportunismo, uma atitude cidadã das pessoas, evidência de que o conjunto da sociedade é capaz de iniciativas e movimentos de solidariedade, preservação, responsabilidade e respeito em relação a questões como a garantia no abastecimento de água.
O que já não se pode dizer de empresas públicas encarregadas do abastecimento de água e isso vale tanto para as megalópoles quanto para as pequenas cidades.
A média brasileira é de perda de 37% da água tratada e potencialmente disponível para consumo por vazamentos numa rede de qualidade insatisfatória.
Na cidade de São Paulo esse índice baixa para 26,5%, mas ainda assim é elevado em comparação, por exemplo, com as perdas do Japão, que não superam os 3%.
E em São Paulo a Sabesp, empresa encarregada dos serviços de água e esgoto, ainda é uma das responsáveis pelo esburacamento diário das ruas, sem reparos à altura, o que torna a qualidade das pistas de rolamentos para automóveis e trânsito de pedestres quase uma aventura.
Atitudes como a que o conjunto da população está tomando, no sentido de economizar o consumo de água, de forma a evitar racionamento e situações ainda mais imprevisíveis são fundamentais não só em casos como o da água, evidentemente. Elas se estendem a todo o conjunto de relações que dizem respeito à vida comunitária em especial nas grandes cidades e nas megalópoles.
O noticiário diário da mídia, carregado de negativismo e previsões sombrias, certamente deve abrir algum espaço para uma atitude que, na essência, é a fundamental: a atitude responsável, respeitosa e consequente do conjunto da sociedade em relação a um bem que é indispensável para a vida: a água.

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